
Embora Truffaut não gostasse de falar no assunto, o mundo inteiro sabia que o personagem Antoine Doinel, o garoto de Os Incompreendidos, era o alter-ego do cineasta. Como o menino, ele também havia crescido no seio de uma família pobre que não se entendia e não lhe dava atenção. Ele também fora um delinqüente juvenil, cometendo pequenos furtos pelas ruas de Paris e também passara uma temporada no reformatório. O que Truffaut queria, transpondo essas experiências para a tela, era mostrar ao mundo que o mundo do adolescente não era compreendido pelos adultos.
Os Incompreendidos foi o filme certo na hora certa. Em 1959, ano em que foi lançado, o mundo assistia a uma revolução branca comandada pelos jovens.
O rock’n roll e a moda foram as formas encontradas para expressar tal revolução.
Truffaut conta a história de um jovem de 15 anos que ninguém – pais, educadores, parentes ou policiais – entendia. Antoine Doinel não é bom nem mau, é só um adolescente. O cineasta contou esta história com uma gigantesca dose de carinho pelo personagem.
O resultado final é um filme deslumbrante, poético e melancólico em alguns momentos, suave e cômico em outros, mas sempre compreensivo e caloroso. Doinel mente para os professores e para os pais, rouba uma máquina de escrever, fica preso num reformatório, mas não é um menino malvado. Pena que somente nós, que permanecemos tão perto dele, compreendemos suas ações. Os adultos do filme não o entendem. Não percebem que quando ele cita Balzac numa redação, não está tentando plagiar o grande escritor, mas homenageá-lo. Além disso, Truffaut sabe exatamente como filmar, evitando resvalar a história para o melodrama e nunca tornando-a piegas ou cômica. A obra alcança uma unanimidade da crítica que afirma que Os Incompreendidos permanece o melhor filme sobre adolescentes já lançado.
Vale lembrar ainda que Truffaut tinha tanto carinho pelo personagem que voltaria a ele mais cinco vezes - quatro em longas-metragens e uma em um curta, feito apenas três anos depois de Os Incompreendidos. Todas as aparições de Doinel na tela foram encarnadas pelo ator Jean-Pierre Leáud, cuja performance é um dos maiores trunfos do filme de 1959.
Título Original: Les 400 Coups
Ano de lançamento (França): 1959
Tempo de Duração: 99 minutos
Direção: François Truffaut
Elenco: Jean-Pierre Léaud, Albert Rémy, Claire Maurier, Patrick Aufey