A década de 1950 foi decisiva, em termos culturais, para a história do século XX. Foi nessa época em que o abismo de gerações que provocou a mais profunda mudança de rumo na sociedade ocidental desenhou-se: a tomada de poder (econômico, social e, em última instância, cultural) pelos jovens na década de 60. De repente, o mundo começou a perceber que havia uma fissura irremediável entre pais e filhos, entre juventude e meia-idade, entre jovens e velhos. Eram duas gerações que não conseguiam mais dialogar; estavam incomunicáveis.
De fato, Juventude Transviada é mais do que um filme. É um símbolo, um ícone, uma afirmação definitiva do cinema como obra de arte. Naquela época, ainda perdurava uma discussão que hoje parece sem sentido: seria o cinema uma forma válida de arte, ou apenas uma linha de montagem de produtos sem valor artístico algum? Juventude Transviada veio para dissipar qualquer dúvida, dando uma demonstração inequívoca de que o cinema cumpre, sim, a função social da arte.
Trata-se do caso clássico (mas raro) do filme certo feito na hora certa. O longa-metragem de Nicholas Ray, que ao lado de Hitchcock era o diretor mais cultuado entre os críticos franceses da Nouvelle Vague (leia-se Jean-Luc Godard, François Truffaut e outros futuros cineastas), mostrou que Hollywood estava em sintonia com as ruas. Nicholas Ray percebeu a proliferação de gangues juvenis em Los Angeles e achou que isso daria um bom filme. As gangues eram um fenômeno interessante, mas por trás daquela revolta juvenil havia mais. Havia um movimento contínuo e inconsciente da juventude, que começava a se emancipar e ganhar uma voz, algo que não ocorria nas gerações anteriores.
Para completar, um fator extra-filme contribuiu para tornar o longa-metragem mais do que uma obra cinematográfica: a morte de James Dean. O jovem ator morreu um mês antes de o filme estrear, num acidente de carro causado por direção imprudente. Ele repetia, na vida real, uma das grandes cenas de Juventude Transviada. Morria jovem e belo. A união do personagem rebelde que o ator interpretou com a morte precoce produziria um fenômeno da cultura pop. Dean virou um dos maiores mitos do século XX, a encarnação perfeita do jovem que vive segundo a filosofia do “viva hoje sem pensar em amanhã”.
O acidente fatal de James Dean foi crucial para fazer de Juventude Transviada um marco cultural. Afinal, pelo menos duas outras imagens poderosas que simbolizavam a fissura entre jovens e velhos nasciam na mesma época: Marlon Brando vestido de couro negro e sentado numa motocicleta, em “O Selvagem” (1954), e Elvis Presley (1956). A morte James Dean, de certa maneira, o tornou imortal. Virou uma imagem simbólica de rebeldia insaciável. Com o passar dos anos, Juventude Transviada apenas reforçaria esse símbolo.
Em relação ao filme, Nicholas Ray fez toda a ação dramática concentrar-se em um período de apenas 24 horas e criou uma abertura engenhosa, com uma longa seqüência em que os três personagens principais, que não se conhecem ainda, se cruzam na Delegacia de Menores de Los Angeles. Jim Stark (James Dean) foi detido por embriaguez, Judy (Natalie Wood) por ter brigado com o pai, e Plato (Sal Mineo), por ter atirado em cães. A câmera se detém por alguns minutos em cada, e enfatiza a semelhança entre eles: todos são jovens envoltos em sérios problemas de relacionamento com os pais. O desenrolar da ação fará com que os três se conheçam e vivam uma aventura trágica no dia seguinte, com clímax num cenário espetacular, que evoca a própria situação emocional dos três: uma mansão abandonada.
O filme criou muitas modas, algumas fugazes (durante os meses seguintes, jaquetas vermelhas iguais à de James Dean viraram coqueluche mundial).
A obra retrata bem o pensamento e o costume revolucionário dos anos 50 e mostra a rebeldia contra os conservadores nos contexto pós II Guerra Mundial e contra o “manter as aparências”, não só no âmbito social, mas também no âmbito familiar. Já se vê nitidamente o rompimento com as instituições familiar e escolar. Há vontade nessa juventude de subverter, de emancipar. A ordem é restabelecida pelas velhas instituições: família, Estado e a representação da polícia.
Para entender a atitude dos jovens nesse filme é preciso analisar a época e o contexto sócio-histórico. Só assim é possível compreender essa rebeldia que tem causa e ganhará força, culminado na revolução dos anos 60.
Título Original: Rebel without a case
Ano de lançamento (EUA): 1955
Tempo de Duração: 111 minutos
Direção: Nicholas Ray
Elenco: James Dean, Natalie Wood, Sal Mineo, Jim Backus
De fato, Juventude Transviada é mais do que um filme. É um símbolo, um ícone, uma afirmação definitiva do cinema como obra de arte. Naquela época, ainda perdurava uma discussão que hoje parece sem sentido: seria o cinema uma forma válida de arte, ou apenas uma linha de montagem de produtos sem valor artístico algum? Juventude Transviada veio para dissipar qualquer dúvida, dando uma demonstração inequívoca de que o cinema cumpre, sim, a função social da arte.
Trata-se do caso clássico (mas raro) do filme certo feito na hora certa. O longa-metragem de Nicholas Ray, que ao lado de Hitchcock era o diretor mais cultuado entre os críticos franceses da Nouvelle Vague (leia-se Jean-Luc Godard, François Truffaut e outros futuros cineastas), mostrou que Hollywood estava em sintonia com as ruas. Nicholas Ray percebeu a proliferação de gangues juvenis em Los Angeles e achou que isso daria um bom filme. As gangues eram um fenômeno interessante, mas por trás daquela revolta juvenil havia mais. Havia um movimento contínuo e inconsciente da juventude, que começava a se emancipar e ganhar uma voz, algo que não ocorria nas gerações anteriores.
Para completar, um fator extra-filme contribuiu para tornar o longa-metragem mais do que uma obra cinematográfica: a morte de James Dean. O jovem ator morreu um mês antes de o filme estrear, num acidente de carro causado por direção imprudente. Ele repetia, na vida real, uma das grandes cenas de Juventude Transviada. Morria jovem e belo. A união do personagem rebelde que o ator interpretou com a morte precoce produziria um fenômeno da cultura pop. Dean virou um dos maiores mitos do século XX, a encarnação perfeita do jovem que vive segundo a filosofia do “viva hoje sem pensar em amanhã”.
O acidente fatal de James Dean foi crucial para fazer de Juventude Transviada um marco cultural. Afinal, pelo menos duas outras imagens poderosas que simbolizavam a fissura entre jovens e velhos nasciam na mesma época: Marlon Brando vestido de couro negro e sentado numa motocicleta, em “O Selvagem” (1954), e Elvis Presley (1956). A morte James Dean, de certa maneira, o tornou imortal. Virou uma imagem simbólica de rebeldia insaciável. Com o passar dos anos, Juventude Transviada apenas reforçaria esse símbolo.
Em relação ao filme, Nicholas Ray fez toda a ação dramática concentrar-se em um período de apenas 24 horas e criou uma abertura engenhosa, com uma longa seqüência em que os três personagens principais, que não se conhecem ainda, se cruzam na Delegacia de Menores de Los Angeles. Jim Stark (James Dean) foi detido por embriaguez, Judy (Natalie Wood) por ter brigado com o pai, e Plato (Sal Mineo), por ter atirado em cães. A câmera se detém por alguns minutos em cada, e enfatiza a semelhança entre eles: todos são jovens envoltos em sérios problemas de relacionamento com os pais. O desenrolar da ação fará com que os três se conheçam e vivam uma aventura trágica no dia seguinte, com clímax num cenário espetacular, que evoca a própria situação emocional dos três: uma mansão abandonada.
O filme criou muitas modas, algumas fugazes (durante os meses seguintes, jaquetas vermelhas iguais à de James Dean viraram coqueluche mundial).
A obra retrata bem o pensamento e o costume revolucionário dos anos 50 e mostra a rebeldia contra os conservadores nos contexto pós II Guerra Mundial e contra o “manter as aparências”, não só no âmbito social, mas também no âmbito familiar. Já se vê nitidamente o rompimento com as instituições familiar e escolar. Há vontade nessa juventude de subverter, de emancipar. A ordem é restabelecida pelas velhas instituições: família, Estado e a representação da polícia.
Para entender a atitude dos jovens nesse filme é preciso analisar a época e o contexto sócio-histórico. Só assim é possível compreender essa rebeldia que tem causa e ganhará força, culminado na revolução dos anos 60.
Título Original: Rebel without a case
Ano de lançamento (EUA): 1955
Tempo de Duração: 111 minutos
Direção: Nicholas Ray
Elenco: James Dean, Natalie Wood, Sal Mineo, Jim Backus