Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a Sra. Kerner (Katrin Sass) passa mal, entra em coma e fica desacordada durante os dias que marcaram o triunfo do regime capitalista. Quando ela desperta, em meados de 1990, sua cidade, Berlim Oriental, está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander (Daniel Brühl), temendo que a excitação causada pelas drásticas mudanças possa lhe prejudicar a saúde, decide esconder-lhe os acontecimentos. Enquanto a Sra. Kerner permanece acamada, Alex não tem muitos problemas, mas quando ela deseja assistir à televisão ele precisa contar com a ajuda de um amigo diretor de vídeos.
Adeus, Lênin! marca o ressurgimento do cinema comercial alemão após anos de um período glacial de pouco público e recepção fria dos críticos. O filme de Wolfgang Becker alcançou a impressionante marca de 6 milhões de espectadores e amealhou boas críticas de jornalistas, especializados ou não, e de setores da esquerda ou da direita. No Brasil, por exemplo, sites como do PSTU (parte cultural) e da Revista Veja fazem rasgados elogios ao filme, cada qual com seus motivos. O problema de Adeus, Lênin talvez resida neste consenso. Um filme político (com boas intenções?) que recebe boas críticas de setores tão distintos é motivo de preocupação com o discurso que adota ou com a inocência de quem o recebeu.
A fábula ostálgica [leste+nostalgia] agridoce encantou a Alemanha e mundo. Apesar do “grande” tema histórico que suscita (a Reunificação!) e das láureas que recebeu, o filme adota estratégias narrativas e estéticas convencionais. Logo após a reunificação, a ostálgia ajudou a colocar na tela uma espécie socialismo lúdico que existiria na Alemanha Oriental (Go, Trabi, Go! (1992) é um exemplo)
Em oposição a esse socialismo apareceu em 2006 A Vida dos Outros, de Florian Henckel von Donnersmarck, que aponta para um socialismo bem real e outro grande tema histórico (a Stasi). O cineasta alemão Wim Wenders escreveu em 1992, no Le Monde, que a considera a reunificação como “erro de montagem” e “que não teria sido feita pelo autor, mas pelo estúdio – todo o material bom teria sido abandonado no chão da sala de montagem”. A reunificação “não foi feita com material humano, a história e a linguagem das pessoas que haviam brigado tanto por isso, mas de acordo com uma outra lógica, a dos políticos da Alemanha Ocidental, que precisavam colocar a reunificação na tela muito rápido”. Wim Wenders chegou a um ponto que ajuda na análise de Adeus, Lênin! : a película não tem como objetivo principal fazer críticas à esquerda ou à direita, apesar de fazê-las, mas sim participar de um projeto de normalização das relações leste-oeste na Alemanha reunificada e de uma recepção sem tantos preconceitos da germaneidade (vide que o slogan da Copa de 2006 era “Time to make friends”). Isso por si só explica a grande aceitação do filme em diversos meios e o sucesso alcançado desde o lançamento.
Apesar desse adendo Adeus, Lênin! tem sua importância e seus méritos: consegue mostrar com excelência a marcha de um Estado sobre outro e como a Alemanha Oriental virou rapidamente peça de museu com todos os seus pontos diversos, transformando a RDA em uma espécie de zoológico ideológico. A cena que Lênin passa de helicóptero, dando o seu adeus, é interessante: nessa cena nos podemos tirar conclusões da rápida mudança da antiga pátria socialista ou como (dependendo da visão da pessoa) os comunistas eram iconófilos em relação aos seus líderes intelectuais. Adeus, Lênin! mostra que após a euforia da reunificação a Alemanha encontrou problemas para se acomodar a nova realidade. O filme ressalta valores familiares e a relação de proximidade entre as pessoas, que como já foi dito está em um contexto de melhor recepção do ser alemão no mundo. O filme é, sobretudo, bem filmado, realizado e atuado, o que muito contribuiu para o sucesso da película.
Título Original: Good Bye, Lenin! (Alemanha, 2003)
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 118 minutos
Distribuição: Sony Pictures Classics
Direção: Wolfgang Becker
Roteiro: Wolfgang Becker e Bernd Lichtenberg.